quarta-feira, 27 de março de 2013

The end. My only friend, the end.



The end of the world as we know it. Assim poderíamos resumir o que trazem as histórias distópicas. Na via oposta à das narrativas utópicas, elas trazem o fim do sonho... um mundo novo que se forma depois de abusos e descontrole governamental e da natureza.
Depois de vivermos sem prestar atenção às possíveis consequências do nosso modo de viver, essas consequências seriam expostas nessa forma de literatura, em diferentes mundos que encontramos nas histórias. Nelas, a nossa civilização atual não passa de lembranças difusas, objetos perdidos e construções abandonadas.
Antes conhecidos como “romances de antecipação”, as histórias que falam de um mundo que se torna muito pior em consequência da nossa forma de viver têm se voltado mais para o público juvenil há um tempo. O sucesso de The Hunger GamesJogos Vorazes -, que muitos apontam como inspirado em Battle Royale e na série de Orson Scott Card, Ender's Game, abriu o caminho para muitos outros livros e filmes nesse sentido.
A violência nessas histórias e se ela seria “adequada” ao público jovem (não sei se a violência se adéqua, na verdade) tem possibilitado o surgimento de discussões nesse sentido. Uma delas, em que uma mãe que escreve sobre o interesse de sua filha pela história de Katniss em The Hunger Games, quando do lançamento do filme, diz muito do que eu penso a respeito.
O mundo está aí, a violência nele pela ação das pessoas. Fingir que algo não existe não o elimina, infelizmente, da face da terra. Discutir a violência não é uma opção, é obrigatoriedade. E que melhor meio que a ficção? Eu ainda não conheço nenhum.
Nos últimos meses, tem-se tornado um padrão em mim a leitura de gêneros semelhantes num mesmo mês.
Este foi o mês do fim do mundo como nós o conhecemos, por meio das continuações de quatro séries distópicas que ocuparam o meu março.
Iniciei com Through The Ever Nigh, de Veronica Rossi (Under the Never Sky 2). A autora brasileira, residente nos US, cria um mundo em que uma catástrofe natural – o desaparecimento da camada de ozônio numa parte da terra -, juntamente com o controle exercido pelo poder vigente, coloca a maior parte da população dos Estados Unidos residindo em domos, protegidos do céu nocivo pelo teto que os cobre e dos perigos de uma rebelião pelo sistema de mundos virtuais em que entram de acordo com a vontade. Viagens, situações, eras... tudo é possível vivenciar num literal piscar de olhos: cada cidadão tem um dispositivo nos olhos que o leva aos realms que desejar.
Mas a vida não se resume a esses domos... fora deles vivem pessoas em tribos de diferentes tamanhos e condições, umas menores e mais pobres, outras maiores e com mais recursos. Nesse mundo, essas diferentes condições se debatem e criam as condições para a jornada do herói dos dois personagens principais: Aria, fugitiva de um dos domos, e Perry, sua alma gêmea de uma das tribos do “Outside”, um mundo menos protegido que o dos relms.
Bodies on the outside wore experiences like souvenirs. (p.27).
O primeiro livro nos apresenta esse mundo, o estranhamento de dois personagens com vidas diferentes e como, claro, eles se apaixonam. O segundo, que li este mês, complica a história um pouco mais, como é digno do livro do meio de uma trilogia, e coloca os heróis na direção de um caminho do meio entre suas diferenças. Além da busca de um mundo melhor – no caso, the still blue.
it’s not ideal,” Perry said, raising the torch in his hand higher. “Ideals belong in a world only the wise man can understand.” Marron said quietly. (p. 144).
Tenho gostado bastante da série, embora não esteja enlouquecida pelo final. Não sei se é a abundância de séries que me tira um pouco a ansiedade ou se o livro realmente não empolga tanto, embora seja bom. O terceiro e último capítulo da série deve ser lançado ano que vem.
Rebel Heart, de Moira Young (Dust Lands 2), é a continuação de Blood Red Road, um livro que não consta do Viagens porque, como percebi há uns dias, eu esqueci que o havia lido. Até um dia em que a história me veio à lembrança e decidi procurar pela continuação da série.
Ele se aproxima de Under the Never Sky por trazer um mundo que retornou, depois do desaparecimento da sociedade como a conhecemos (wreckers, como se  diz aqui), a uma forma tribal e menos tecnológica de vida.
Saba deixa sua casa, isolada de todo o resto do mundo, para procurar, juntamente com a irmã mais nova, o gêmeo que foi raptado. Na sua jornada, conhece formas de vida que não sabia existir. Reis, rebeldes e, claro, Jack aparecem no seu caminho.
Well, you say that, says Lugh, but I heard it from a man, an he heard it from another man who seen it fer hisself an… (p. 41).
A jornada do herói, que sai do seu mundo conhecido e toma consciência dos perigos da existência ao mesmo tempo em que realiza é ele quem pode superá-los passa também pela descoberta do amor românticos. Nos quatro livros deste post é assim, alguns com mais coerência, força e interesse, e outros com uma infantilidade de irritar.
There are some people, she says, not many, who have within them the power to change things. the courage to act in the service of somethin greater than themselves. (p. 64)
Dust Lands é assim. O primeiro foi passável. Mas, neste segundo, a história perde totalmente o sentido e os personagens desparecem na situações bizarras. Se tornou quase uma palhaçada, na verdade. Eu o li em fastfoward, é realmente insuportável. Mas a curiosidade sempre ganha comigo, e não saber o que acontece acaba por não ser uma opção.
Um destaque, e uma agonia nessa série é a mudança na linguagem – um inglês alterado sai da boca e do pensamento dos personagens. E, apesar de interessante e lógico, além de ajudar a visualizar esse novo mundo, é angustiante mais do que outra coisa. 
Prodigy, de Marie Lu, é a sequência de Legend, que dá nome à série. Aqui, destaca-se o desenvolvimento tecnológico e as diferenças sociais, representadas pelos dois protagonistas, June e Day, star crossed lovers num mundo de injustiças e enganos.
Aqui as coisas começam a melhorar no fim do mundo. Os dois livros são muito bons e inlargáveis antes do fim. Não trazem nada de muito novo, mas uma história bem contada não depende do ineditismo – um objetivo ingrato no mundo das histórias.
Chinas enormous, floating metropolises are built entirely over the water and have permanently black skies. (p. 100).
Referências a outras imagens e narrativas que nos acompanham são frequentes também e, para mim, muito bem-vindas, como esta acima, em que me vem à mente o mundo de Blade Runner, com as telas gigantes, o escuro permanente e a chuva constante.
Em Legend, duas pessoas de mundos diferentes e até antagônicos se encontram, há o embate e, claro, se apaixonam. Assim, juntos, descobrem aos poucos que as certezas que tinham sobre suas vidas não são tão certas assim e, também juntos, tentam fazer o que é certo para salvar a tudo e a todos.
Quem disse que A Jornada seria fácil?
Também como de costume, o livro do meio numa trilogia traz a separação do casal, suas dúvidas e dificuldades até que possam ficar juntos definitivamente no terceiro livro (está me ouvindo, Cassandra Clare? TERCEIRO! Sem trotes da próxima vez, se for possível. Argh).
Então, como se vê, não é o que se conta, mas como. E ao ler os quatro livros assim, juntos, isso se tornou mais claro.
E assim chegamos ao quarto fim do mundo as we know it de março, Insurgent, de Veronica Roth (Divergent 2 – se percebe que o ineditismo está difícil no nome das autoras também...).
Esta é a séria mais famosa das quatro aqui, com o lançamento do primeiro filme previsto para em 2014 (sempre um medo, embora o elenco, divulgado esta semana, prometa). Insurgent acompanha Legend ao apresentar um mundo mais avançado tecnologicamente em certos aspectos, e bastante retrógrado em outros, como é de se esperar.
I read somewhere, once, that crying defies scientific explanation. Tears are only meant to lubricate the eyes. There is no real reason for tear glands to overproduce tears at the behest of emotion. (p. 341).
Numa Chicago em destroços, a sociedade se estrutura por 5 facções, cada uma com uma qualidade demarcada claramente – Amity, (paz)); Erudite (inteligência); Abnegation (caridade); Candor (honestidade) e Dantless (coragem). Aos 16 anos, todos passam por um teste que define se continuam onde foram criados ou se mudarão de facção, o que sempre é uma desonra para a família. Todas as facções têm costumes, sentimentos, rituais, cores de roupa e habilidades muito definidas e nada flexíveis.

Nesse mundo tão estático, o outro é sempre um desconhecido, um estrangeiro que vive de forma que não compreendemos.
May the peace of God be with you,” she says, her voice low, “even in the mist of trouble.”“Why would it?” I say softly, so no one else can hear. “After all I’ve done…”“It isn’t about you,” she says. “It is a gift. You cannot earn it, or it ceases to be a gift.” (p. 440).
A confusão acontece quando a protagonista da história, Beatrice, descobre que possui afinidade com três facções. A flexibilidade tem um nome – Divergent – e é um perigo para a manutenção da  comunidade como ela se encontra. Mas isso ela vai descobrindo ao longo da história, ao mesmo tempo em que encontra o bonito da história, Four, que a vai acompanhar na desestruturação do mundo que conhece.
People, I have discovered, are layers and layers of secrets. You believe you know them, but their motives are always hidden from, buried in their own hearts. You will never know them, but sometimes you decide to trust them. (p. 510).
Insurgent traz, em seu final, uma surpresa bombástica, que eu, imersa no mundo das constantes narrativas, não esperava. E desculpe por estragar a surpresa da surpresa (...), mas como foi uma das coisas mais marcantes da história, não dá para ignorá-la.
E, agora sim, estou bastante ansiosa pela continuação, deste que, dos quatro, traz o melhor fim do mundo (como assim???) – e o que fez mais sentido.


PS: Este mês, foi lançado Clockwork Princess, o último livro da série Infernal Devices, spin-off de Imortal Instruments, de Cassandra Clare. Esta última foi escrita inicialmente como uma trilogia. Depois do seu sucesso e do lançamento de ID, que se situa no mesmo mundo dos shadowhunters, mas 150 anos antes, Mortal Instruments foi estendida para seis capítulos. Uma decisão não muito feliz, mas que promete melhorar no último livro da série, que será lançado ano que vem. Enquanto isso, Infernal Devices tem se mostrado melhor (mas muito melhor) do que a série de que se originou (e de que eu gosto bastante), e estou realmente ansiosa para ler o seu final – acho que uma revelação bombástica está para acontecer...spooky. E como se vê pelo trailer acima, o primeiro livro de MI, City of Bones, está em faze de produção no cinema, com lançamento previsto para este ano. 

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