quarta-feira, 27 de março de 2013

The end. My only friend, the end.



The end of the world as we know it. Assim poderíamos resumir o que trazem as histórias distópicas. Na via oposta à das narrativas utópicas, elas trazem o fim do sonho... um mundo novo que se forma depois de abusos e descontrole governamental e da natureza.
Depois de vivermos sem prestar atenção às possíveis consequências do nosso modo de viver, essas consequências seriam expostas nessa forma de literatura, em diferentes mundos que encontramos nas histórias. Nelas, a nossa civilização atual não passa de lembranças difusas, objetos perdidos e construções abandonadas.
Antes conhecidos como “romances de antecipação”, as histórias que falam de um mundo que se torna muito pior em consequência da nossa forma de viver têm se voltado mais para o público juvenil há um tempo. O sucesso de The Hunger GamesJogos Vorazes -, que muitos apontam como inspirado em Battle Royale e na série de Orson Scott Card, Ender's Game, abriu o caminho para muitos outros livros e filmes nesse sentido.
A violência nessas histórias e se ela seria “adequada” ao público jovem (não sei se a violência se adéqua, na verdade) tem possibilitado o surgimento de discussões nesse sentido. Uma delas, em que uma mãe que escreve sobre o interesse de sua filha pela história de Katniss em The Hunger Games, quando do lançamento do filme, diz muito do que eu penso a respeito.
O mundo está aí, a violência nele pela ação das pessoas. Fingir que algo não existe não o elimina, infelizmente, da face da terra. Discutir a violência não é uma opção, é obrigatoriedade. E que melhor meio que a ficção? Eu ainda não conheço nenhum.
Nos últimos meses, tem-se tornado um padrão em mim a leitura de gêneros semelhantes num mesmo mês.
Este foi o mês do fim do mundo como nós o conhecemos, por meio das continuações de quatro séries distópicas que ocuparam o meu março.
Iniciei com Through The Ever Nigh, de Veronica Rossi (Under the Never Sky 2). A autora brasileira, residente nos US, cria um mundo em que uma catástrofe natural – o desaparecimento da camada de ozônio numa parte da terra -, juntamente com o controle exercido pelo poder vigente, coloca a maior parte da população dos Estados Unidos residindo em domos, protegidos do céu nocivo pelo teto que os cobre e dos perigos de uma rebelião pelo sistema de mundos virtuais em que entram de acordo com a vontade. Viagens, situações, eras... tudo é possível vivenciar num literal piscar de olhos: cada cidadão tem um dispositivo nos olhos que o leva aos realms que desejar.
Mas a vida não se resume a esses domos... fora deles vivem pessoas em tribos de diferentes tamanhos e condições, umas menores e mais pobres, outras maiores e com mais recursos. Nesse mundo, essas diferentes condições se debatem e criam as condições para a jornada do herói dos dois personagens principais: Aria, fugitiva de um dos domos, e Perry, sua alma gêmea de uma das tribos do “Outside”, um mundo menos protegido que o dos relms.
Bodies on the outside wore experiences like souvenirs. (p.27).
O primeiro livro nos apresenta esse mundo, o estranhamento de dois personagens com vidas diferentes e como, claro, eles se apaixonam. O segundo, que li este mês, complica a história um pouco mais, como é digno do livro do meio de uma trilogia, e coloca os heróis na direção de um caminho do meio entre suas diferenças. Além da busca de um mundo melhor – no caso, the still blue.
it’s not ideal,” Perry said, raising the torch in his hand higher. “Ideals belong in a world only the wise man can understand.” Marron said quietly. (p. 144).
Tenho gostado bastante da série, embora não esteja enlouquecida pelo final. Não sei se é a abundância de séries que me tira um pouco a ansiedade ou se o livro realmente não empolga tanto, embora seja bom. O terceiro e último capítulo da série deve ser lançado ano que vem.
Rebel Heart, de Moira Young (Dust Lands 2), é a continuação de Blood Red Road, um livro que não consta do Viagens porque, como percebi há uns dias, eu esqueci que o havia lido. Até um dia em que a história me veio à lembrança e decidi procurar pela continuação da série.
Ele se aproxima de Under the Never Sky por trazer um mundo que retornou, depois do desaparecimento da sociedade como a conhecemos (wreckers, como se  diz aqui), a uma forma tribal e menos tecnológica de vida.
Saba deixa sua casa, isolada de todo o resto do mundo, para procurar, juntamente com a irmã mais nova, o gêmeo que foi raptado. Na sua jornada, conhece formas de vida que não sabia existir. Reis, rebeldes e, claro, Jack aparecem no seu caminho.
Well, you say that, says Lugh, but I heard it from a man, an he heard it from another man who seen it fer hisself an… (p. 41).
A jornada do herói, que sai do seu mundo conhecido e toma consciência dos perigos da existência ao mesmo tempo em que realiza é ele quem pode superá-los passa também pela descoberta do amor românticos. Nos quatro livros deste post é assim, alguns com mais coerência, força e interesse, e outros com uma infantilidade de irritar.
There are some people, she says, not many, who have within them the power to change things. the courage to act in the service of somethin greater than themselves. (p. 64)
Dust Lands é assim. O primeiro foi passável. Mas, neste segundo, a história perde totalmente o sentido e os personagens desparecem na situações bizarras. Se tornou quase uma palhaçada, na verdade. Eu o li em fastfoward, é realmente insuportável. Mas a curiosidade sempre ganha comigo, e não saber o que acontece acaba por não ser uma opção.
Um destaque, e uma agonia nessa série é a mudança na linguagem – um inglês alterado sai da boca e do pensamento dos personagens. E, apesar de interessante e lógico, além de ajudar a visualizar esse novo mundo, é angustiante mais do que outra coisa. 
Prodigy, de Marie Lu, é a sequência de Legend, que dá nome à série. Aqui, destaca-se o desenvolvimento tecnológico e as diferenças sociais, representadas pelos dois protagonistas, June e Day, star crossed lovers num mundo de injustiças e enganos.
Aqui as coisas começam a melhorar no fim do mundo. Os dois livros são muito bons e inlargáveis antes do fim. Não trazem nada de muito novo, mas uma história bem contada não depende do ineditismo – um objetivo ingrato no mundo das histórias.
Chinas enormous, floating metropolises are built entirely over the water and have permanently black skies. (p. 100).
Referências a outras imagens e narrativas que nos acompanham são frequentes também e, para mim, muito bem-vindas, como esta acima, em que me vem à mente o mundo de Blade Runner, com as telas gigantes, o escuro permanente e a chuva constante.
Em Legend, duas pessoas de mundos diferentes e até antagônicos se encontram, há o embate e, claro, se apaixonam. Assim, juntos, descobrem aos poucos que as certezas que tinham sobre suas vidas não são tão certas assim e, também juntos, tentam fazer o que é certo para salvar a tudo e a todos.
Quem disse que A Jornada seria fácil?
Também como de costume, o livro do meio numa trilogia traz a separação do casal, suas dúvidas e dificuldades até que possam ficar juntos definitivamente no terceiro livro (está me ouvindo, Cassandra Clare? TERCEIRO! Sem trotes da próxima vez, se for possível. Argh).
Então, como se vê, não é o que se conta, mas como. E ao ler os quatro livros assim, juntos, isso se tornou mais claro.
E assim chegamos ao quarto fim do mundo as we know it de março, Insurgent, de Veronica Roth (Divergent 2 – se percebe que o ineditismo está difícil no nome das autoras também...).
Esta é a séria mais famosa das quatro aqui, com o lançamento do primeiro filme previsto para em 2014 (sempre um medo, embora o elenco, divulgado esta semana, prometa). Insurgent acompanha Legend ao apresentar um mundo mais avançado tecnologicamente em certos aspectos, e bastante retrógrado em outros, como é de se esperar.
I read somewhere, once, that crying defies scientific explanation. Tears are only meant to lubricate the eyes. There is no real reason for tear glands to overproduce tears at the behest of emotion. (p. 341).
Numa Chicago em destroços, a sociedade se estrutura por 5 facções, cada uma com uma qualidade demarcada claramente – Amity, (paz)); Erudite (inteligência); Abnegation (caridade); Candor (honestidade) e Dantless (coragem). Aos 16 anos, todos passam por um teste que define se continuam onde foram criados ou se mudarão de facção, o que sempre é uma desonra para a família. Todas as facções têm costumes, sentimentos, rituais, cores de roupa e habilidades muito definidas e nada flexíveis.

Nesse mundo tão estático, o outro é sempre um desconhecido, um estrangeiro que vive de forma que não compreendemos.
May the peace of God be with you,” she says, her voice low, “even in the mist of trouble.”“Why would it?” I say softly, so no one else can hear. “After all I’ve done…”“It isn’t about you,” she says. “It is a gift. You cannot earn it, or it ceases to be a gift.” (p. 440).
A confusão acontece quando a protagonista da história, Beatrice, descobre que possui afinidade com três facções. A flexibilidade tem um nome – Divergent – e é um perigo para a manutenção da  comunidade como ela se encontra. Mas isso ela vai descobrindo ao longo da história, ao mesmo tempo em que encontra o bonito da história, Four, que a vai acompanhar na desestruturação do mundo que conhece.
People, I have discovered, are layers and layers of secrets. You believe you know them, but their motives are always hidden from, buried in their own hearts. You will never know them, but sometimes you decide to trust them. (p. 510).
Insurgent traz, em seu final, uma surpresa bombástica, que eu, imersa no mundo das constantes narrativas, não esperava. E desculpe por estragar a surpresa da surpresa (...), mas como foi uma das coisas mais marcantes da história, não dá para ignorá-la.
E, agora sim, estou bastante ansiosa pela continuação, deste que, dos quatro, traz o melhor fim do mundo (como assim???) – e o que fez mais sentido.


PS: Este mês, foi lançado Clockwork Princess, o último livro da série Infernal Devices, spin-off de Imortal Instruments, de Cassandra Clare. Esta última foi escrita inicialmente como uma trilogia. Depois do seu sucesso e do lançamento de ID, que se situa no mesmo mundo dos shadowhunters, mas 150 anos antes, Mortal Instruments foi estendida para seis capítulos. Uma decisão não muito feliz, mas que promete melhorar no último livro da série, que será lançado ano que vem. Enquanto isso, Infernal Devices tem se mostrado melhor (mas muito melhor) do que a série de que se originou (e de que eu gosto bastante), e estou realmente ansiosa para ler o seu final – acho que uma revelação bombástica está para acontecer...spooky. E como se vê pelo trailer acima, o primeiro livro de MI, City of Bones, está em faze de produção no cinema, com lançamento previsto para este ano. 

segunda-feira, 25 de março de 2013

Todas as famílias felizes são iguais...

...As infelizes o são cada uma à sua maneira.

Este mês, no cinema, a vida foi bastante diversificada. Um pouco lenta, depois da correria de ver todos os filmes do Oscar, mas com produções muito diferentes.

O destaque foi para Oz: Mágico e Poderoso (Oz The Great and Powerful. Sam Raimi, EUS, 2013). Na sala xD do Cinemark a viagem é bela. A estrutura a história seguem de acordo com outro embarque no furacão, O Mágico de Oz (Victor Fleming, 1939). 

E isto foi o que achei o mais incrível, a preocupação com essa continuidade na narrativa, apesar dos tempos diferentes da história e da sua produção. Oz nos coloca na viagem feita pelo mágico de descoberta do seu "reino", muito antes da chegada de Doroty. Conta também de como surgiu a bruxa má do Oeste. Essa quase brincadeira que se faz com as origens de uma história já querida é uma delícia, quando bem feita como Oz. Eu senti alguns incômodos - James Franco é um deles -, coisas que não se encaixaram bem... mas, no todo, o filme me deixou feliz com a história e encantada com as imagens. A chegada a Oz é uma das cenas mais incríveis que já vi, de tirar o fôlego e entusiasmar. A tela que se colore e estende à nossa frente, como a visão num mundo mágico, ainda consegue surpreender numa época em que já se fez e criou muito esteticamente. Mas o filme não é só isso, a história nos coloca em Oz novamente, depois da viagem com Doroty, de uma forma muito coerente.

E por falar nela, quero chegar a O Mágico de Oz novamente, para completar essa viagem mais recente. Essa vontade em si já conta como Oz consegue nos conquistar.

A adaptação dos livros de Kami Garcia e Margareth Stohl, 16 Luas (Beautiful Creatures. Richard LaGravenese, US, 2013), não foi muito diferente das adaptações dos livros para Jovens Adultos que tenho visto e que envolvem romance e uma trama sobrenatual: ugh é uma reação usual para eles, infelizmente. O trailer prometia uma produção mais cuidada e, em certos sentidos, ela é mesmo. Mas no que considero uma ânsia de adaptar esses livros com a maior economia de esforço no cinema, a história se perde. Não amo os livros. Estou parada no segundo, que comecei a ler para ver se o final do filme fazia mais sentido (ele junta os dois primeiros livros, foi a impressão que tive). O primeiro não é maravilhoso, mas não é horrendo... no entanto, perdeu totalmente seu sentido na adaptação, como tenho visto acontecer. 

Jeremy Irons, Emma Thompson e Viola Davis estão fazendo não sei o que ali. Os dois protagonistas, excelentes, não conseguem segurar uma história mal contada. Uma pena. 

De Coração Aberto (À Coeur Ouvert. Marion Laine, França/Argentina, 2012) foi outro desperdício, dessa vez acompanhado de uma grande decepção. A história de um casal que se vê numa situação extrema após um relacionamento de concessões traz um aspecto de saúde pública até. Como podemos nos relacionar anos abrindo mão de recusar o que nos agride é sempre um mistério, mas uma constante. Mila, personagem de Juliette Binoche, convive com a infantilidade, irresponsabilidade e alcoolismo de seu marido cirurgião cardíaco em casa e no trabalho - no casamento e no hospital. Em situações banais e de vida e morte, até que todas sejam assim.. até que não haja mais espaço para o banal e ela tenha de enfrentar suas escolhas. 

Apesar de angustiante, o filme estava num caminho que considero essencial quando o roteirista morreu e outro assumiu o final. É a única explicação para a conclusão mexicana, que consegue, como todos os finais ruins, invalidar o que aconteceu anteriormente. O que foi dito se perde e o que fica é a incompetência de dar seguimento a uma boa história. 

Amor é tudo o que você precisa (Den SkaldedeFrisor, Dinamarca /Suécia/ França/ Itália/Alemanha, 2010), da minha amada Susanne Bier (Dos maravilhosos Depois do Casamento e Em um Mundo Melhor) também morreu na praia. Escrevendo este post vejo que não houve tanta diferença assim... Boas histórias que tinham tudo para serem incríveis não conseguiram um rumo, perdendo-se no meio da sua narrativa. Não sei se é pressa, ou se a tentativa de afirmar algo muito categoricamente que impede que a narrativa tenha vida e chegue ao espectador. 


Os personagens são queridos, a onipresente atriz dinamarquesa Trine Dyrholm é uma querida, Pierce Grosnan está um pouco fora de foco, mas não compromete. O filme fica fraco, no entanto, não tem força. Algo surpreendente e decepcionante em se tratando de Susanne Bier, uma diretora que consegue trazer a vida com intensidade e delicadeza às telas. 


Por falar em onipresença e em Trine Dyrholm, ela está, mesmo que secundariamente, em O Amante da Rainha (En Kongelig affaere. Nikolaj Arcel, Dinamarca/Suécia/República Tcheca, 2012), produção dinamarquesa que concoreru ao Oscar de melhor filme estrangeiro neste ano. Ele traz uma parte da história que não conhecia, a transformação da Dinamarca na época da revolução francesa, com maquinações e lutas pelo poder e pela mudança inspiradas pela ascensão dos governos burgueses, sustentada pelas ideias iluministas. 

Já vimos essa história antes... mas aqui ela é contada belamente.E de forma humana, porque dói no coração ver tanta vida desperdiçada. Madds Mikelsen é outra presença constante no cinema dinamarquês, em que, diferente dos seus personagens em Hollywood, faz papéis bastante fortes e longe dos clichês que o seu rosto marcante propicia. 

Anna Karenina (Joe Wright, Inglaterra, 2013), o filme que encerra este post, é uma produção de outro dos meus diretores preferidos atualmente. Joe Wright é a meu ver um leitor excelente, tanto que suas adaptações são geniais e honestas, longe da fidelidade factual que se associa à tradução de um livro no cinema. Orgulho e Preconceito é uma adaptação  honesta e encantada, e me fez prestar atenção a todos os filmes posteriores do diretor. Assim, aguardava mais este com muita ansiedade.


O curioso é que Wright foi tão, mas tão fiel ao que o livro de Leo Tolstoy representa na história da literatura que acabou por trazer um testemunho contrário à obra. 

Walter Benjamin, em seu ensaio O Narrador, referindo-se à popularização do romance no século XIX, diz que a arte de narrar morreu. Informa-se, mas não se conta uma história, com o que ela traz de experiência humana. 

Anna Karenina de Joe Wright me trouxe todo o tempo que disse Benjamin. A direção de arte á algo fenomenal. O figurino? Wow. As cenas? Orquestradas à perfeição. A história, no entanto? Ausente. E não acho que seja somente pela forma como Wright a resolveu contar, mas sim pelo que se inspirou. Muitos que leem Anna Karenina hoje reclamam do seu dramalhão, de como a história é cansativa... Creio que o que ela contou um dia não tenha a mesma ressonância hoje. Perdeu a importância? Não digo isso. Mas mudou. E Joe Wright enfatiza essa diferença quando faz uma transcrição tão fiel ao espírito da obra em que se baseou. 


Cena bela após cena bela, eu ainda procurava pelas pessoas que transitavam pelos cenários teatrais (incríveis) projetados na tela diante dos nossos olhos. 

Genial e vazio ao mesmo tempo,se é que dá para esses dois conviverem no mesmo espaço. 


Em Um Mundo Melhor

PS: No fim de semana, assisti a Anna Karenina e a O Amante da Rainha com a minha mãe, uma pessoa difícil de convencer de ir ao cinema. Não que ela não goste, adora, mas não tem mais paciência. Milagrosamente, concordou em ir aos dois filmes comigo - um deles é um romance histórico,que ela adora e aos quais não resiste. Deste ela gostou muito. De Karenina, ao final, não soube muito o que dizer. A primeira pergunta dela, no entanto, foi: já são seis horas? O detalhe é que nossa sessão começou à uma e meia da tarde. Histórias vazias são longas, muito longas.

PPS: O filme de Joe Wright não trouxe consigo um dos inícios mais famosos da literatura e que deu título a este post - depois do nome provisório que proclamava, Fuck this, I'm going to Howarts, se o cinema continuar do jeito que anda... Bom, tão emblemática é essa frase que Muriel Barbery, em seu genial e belo A Elegância do Ouriço, a traz como um instrumento de reconhecimento entre duas pessoas socialmente distantes, mas com almas semelhantes:

"Conhecia os Arthens? Disseram-me que era uma família extraordinária", ele diz."Não", respondo, de pé atrás, "não os conhecia particularmente, era uma família como as outras daqui.""E, uma família feliz", diz a sra. Rosen, que visivelmente se impacienta."Sabe, todas as famílias felizes se parecem", resmungo para me ver livre da conversa, "não há o que dizer a respeito delas.""Mas as famílias infelizes o são cada uma a seu jeito", ele diz me olhando de um modo estranho, e, de repente, embora pela segunda vez, eu estremeço. Sim, isso mesmo, juro. Estremeço - mas como que sem querer. Algo que me escapa, que foi mais forte que eu, que me ultrapassou.” (p. 143).


PPPS: Depois de vermos Oz, Marcelita e uma amiga resolveram contar a história do mágico com um rap. Indescritível como eu adorei a iniciativa e ri com as duas... deixo aqui a primeira estrofe, impagável:
Eu sou Oz e não vou arrasar.
Minha namorada virou um bruxa má. 
:)



quarta-feira, 6 de março de 2013

The world will break your heart ten ways to sunday...


Todos os anos, espero com muita ansiedade a data do Oscar, premiação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas aos filmes e atores e realizadores do ano. Nem sempre são premiados os melhores, nem sempre são indicados os que mereciam... Apesar de todas as contradições e ausências, em todos os anos, há mais de 33 anos, o domingo da premiação é um dia  de bastante festa para mim. 

Porque, acima dos prêmios, os quais, devo admitir, não levo muito a sério (e como levar?), adoro o evento. O red carpet, as homenagens, os agradecimentos bizarros. Para mim, é A festa, e eu não a perco.



Este ano, no entanto, ela perdeu bastante da graça para mim. Não sei se foi a má direção do programa - porque o Oscar é um show, e sem uma narrativa bem construída, não se sustenta sozinho pela premiação. Ou se as premiações anteriores, como o Globo de Ouro, estão tão bacanas que ofuscam o último awards da temporada, o Oscar.

A cerimônia deste ano, a 85ª, teve um poster belo de homenagem a todos os premiados...  enfatizou os musicais, as músicas do cinema... mas não fez muito sentido. Trecho do musical Chicago foi apresentado como se estivesse concorrendo - assim, apesar de belíssimo, sua presença ali não fez o menor sentido. Ao final de cada premiação, os ganhadores saindo meio atordoados, uma música emblemática do cinema aparecia assim, do nada. E, mesmo achando que o excesso de explicação nunca é benéfico, a ausência de uma história fez muita falta. A cerimônia acabou, eu soltei um ufa, e me questionei, com um bocado de melancolia, se ano que vem ainda estaria ali.

Bom, mas tudo isso veio para falar dos filmes - consegui assistir aos 9 concorrentes ao prêmio de melhor filme antes da premiação, o que nem sempre é possível - quando comecei a assistir ao Oscar, não era. Os filmes chegavam aqui ao quadrado com três, quatro meses de atraso, na melhor das hipóteses. 

O último a entrar em cartaz na cidade foi Indomável Sonhadora (Beasts of the Southern Wild. Benh Zeitlin, US, 2012), a opção indie do ano, com a incrível Quvenzhane Wallis concorrendo ao Oscar de melhor atriz. Uma indicação bastante discutida, já que, com não autores e uma representação bastante realística, muitos questionaram se haveria atuação ali. Coisas que o Oscar traz, discussões que não fazem muito sentido para mim. O que fez sentido foi o quanto o filme falou de uma realidade que vemos e queremos negar a todo custo. Com referências a meu ver óbvias às tragédias perpetuadas por calamidades naturais como o Katrina, o filme traz a vida daqueles que se encontram à margem da sociedade. Num mundo em que as o derretimento das calotas polares criam áreas de risco à vida, tanto pela inundação quanto pela liberação de feras antes escondidas -, o filme conta a história de uma menina de cinco anos e o seu ambiente próximo de pobreza, fome, marginalidade e, sobretudo, luta pela sobrevivência. 

O filme chegou com a censura de 10 anos... assim, lá fui eu assisti-lo com a minha sobrinha. O que essa categoria não disse, no entanto, foi o quanto ele é absurdamente dolorido e próximo. Crianças que precisam crescer sozinhas... que precisam enfrentarem as feras do mundo sós - e elas conseguem, mas a um custo indescritivelmente alto. Meu coração ficou apertado todo o tempo. Mas acho que alguns aspectos da vida que não entendo se tornaram mais claros para mim. 

Essa sessão foi surrealmente bizarra e acabou por impedir que eu entrasse mais profundamente no filme - que convida, com a sua narrativa, um mergulho numa realidade que não queremos olhar. Durante todo o filme, um senhor na cadeira ao lado deixou o celular ligado, uma luz forte que atrapalhava a visão da tela. Nada o fazia desligar aquela coisa. Ao final do filme, numa das cenas mais tristes que já vi no cinema, três amigas gargalhavam na fileira de trás. Uma delas achou a tragédia tão engraçada que, ao beber água, engastou e cuspiu em mim e na minha sobrinha. 

Eu não sei. Esse mundo está definitivamente muito estranho, e a vontade de descer do trem está cada vez maior. O convívio não está simples - na rua, a pé; no trânsito, de carro; no contato com as pessoas. Mas o cinema, para mim, é o lugar onde o apocalipse está mais presente, acho que por passar tanto tempo lá. Eu tento me sentar o mais distante das pessoas possível... está virando um TOC, na verdade. Afasto-me o máximo que posso, mesmo que, para isso, tenha de sentar com a cara na tela. Do contrário, o que para mim é bastante especial pode virar um pesadelo. 

Assim foi na sessão de um dos filmes do Oscar que eu esperei muito para ver: Silver Linings Playbook (O Lado Bom da Vida. David O. Russel, US, 2012). Como queria ver demais o filme, e logo, fui à sessão de pré-estreia num sábado de carnaval. Ugh. Eca. Ew. Era gente demais, demais. A sala lotadíssima, pessoas chutando a cadeira, falando alto, um pesadelo para essa minha fobia social cinematográfica. Por vim, sentada no gargarejo, mas sem ninguém grudado em mim, pude entrar naquele que, para mim, é o meu preferido dos filmes indicados.

Silver Linings baseia-se nas pessoas (com quem eu tenho mais paciência quando projetadas na tela do que ao meu lado no cinema). As atuações são geniais - e não à toa quatro atores foram indicados ao Oscar. Jennifer Lawrence recebeu o Oscar de melhor atriz, num filme em que todos deveriam ser reconhecidos (o SAGs deixou passar essa oportunidade), numa direção de atores comovente. A história é contada assim, pelas pessoas. Eu acho genial.

Baseado no livro de Matthew Quick, Silver Linings é também um exemplo de adaptação. Os fatos no livro e filme diferem muito - a doença de Pat é pungente no livro, a sua situação é mais extrema. Mas tudo se encontra, de alguma forma, no filme. Ele consegue nos aproximar da intensidade da vida dos personagens , da loucura que nos acompanha diariamente - com ou sem diagnóstico, vale dizer -, sem sentimentalismo, mas com uma emoção forte e bem-vinda numa história.
It hurts to look at the clouds, but it also helps, like most things that cause pain. (p. 23).
A alegoria das nuvens, que, cinzas, são envolvidas em brilho, está presente em todo o livro, na busca do protagonista pelo que faz sentido na vida. Por esse lado bom a que se refere o título em português.

Apesar de haver gostado e me envolvido mais com o filme, o livro, ao final, me conquistou igual. Diferença de fatos à parte, a história está ali. E por ela eu me apaixonei.

E me  apaixonei de tal forma pelo filme que o revejo sempre que posso - hoje será a sexta vez :) E nunca falho de chorar na "montage" com as vozes de Bob Dylan e Johnny Cash, em Girl From the North Country. A cena, triste e linda, trouxe para mim, junto com as palavras do livro, um pensamento que sempre tenho a respeito desse tipo de montagem nos filmes e seus significados:
Luckly, as I am starting to write this part, I remember that in every one of his films, whenever Rocky needs to become a better boxer, they show clips of him doing one-arm push-ups, running on the beach, punching slabs of meat, running the stairs of the art museum, gazing at Adrian Lolvingly, or being yelled at by Mickey or Apollo Creed or even Paulie - all while his theme song plays, which is perhaps the greatest song in the world, "Gonna Fly Now". In the Rocky movies, it only takes a few minutes to cover weeks of training, and yet the audience still understands that a lot of preparation went into the actual development of Rocky's boxing skills, even though we only get to see a few clips of the Italian Stallion working hard. (p. 155).
Pat apresenta seu treinamento e o passar dos dias em uma montagem escrita... o filme a traz também, numa relação com a história que conta que ultrapassa a fidelidade dos fatos.

Totalmente in love.

E por falar em amor, meu coração se derreteu em outro filme que esperava muito ver, Warm Bodies, terrivelmente traduzido como Meu Namorado é um Zumbi (Jonathan Levine, US, 2013). Assim, quem vai querer chegar a um filme com esse nome? E ele é tão fofo, tão, tão fofo... e muito bem feito. Uma pena.

Vale ressaltar a presenta de Nicholas Hoult, que eu vi a primeira vez em O Grande Garoto, em 2002, e fez muito sucesso na série de TV inglesa Skins, que eu vi muito pouco. Ele estará em Jack - O matador de gigantes e, momento fofoca, está em destaque também como o recente ex-namorado de Jennifer Lawrence. Ok. 

Adoro os filmes que apresentam o amor, em fábula, como uma cura para a desumanidade no mundo. Como ele é simples assim: acontece, a cura surge. Eu o assisti mais de uma vez também, e quando penso no filme, um big smile aparece. Queridíssimo.

Outro filme do Oscar no mês passado foi Os Miseráveis (Les Misérables. Tom Hooper, US/UK, 2012), adaptação para o cinema do musical baseado na obra de Victor Hugo. Ufa. É história correndo longe e sendo contada de diferentes formas.

Eu não odeio musicais, pelo contrário. Mas não suporto, definitivamente, diálogos cantados. Acho que Les Mis pecou nesse excesso, porque as músicas são tantas, e maravilhosas - há momentos de genialidade - que a contraposição com o diálogo falado seria bem-vinda. A primeira cena é um espanto absoluto. Lindo de ver.

O musical traz duas de minhas musicas mais queridas do gênero (que o Fantasma da Ópera me desculpe). Não precisaria nem citar I Dreamed a Dream, mas On my Own não é tão óbvia assim e dela gosto demais.

Apesar de ele não ser o meu favorito, penso que deveria ter ganho o Oscar (Argo? Really?). A produção é incrível, a opção pela performance das musicas ao vivo deu um visceralidade à atuação que tem o toque de gênio a que me referi há algumas linhas.


Zero Dark Thirty (A Hora mais Escura. Kathryn Biggelow, US, 2012), outro indicado ao Oscar de melhor filme, foca-se nas ações de uma agente da CIA que levaram à captura de Osama Bin-Laden e sua morte. O filme chegou com muita polêmica sobretudo pelas cenas de tortura. Para muitos, Biggelow teria justificado o uso de tortura na obtenção de informações. Essa discussão resultou numa das piadas mais engraçadas no Globo de Ouro, quando as apresentadoras, Amy Poehler e Tina Fey alegaram não estarem a par das polêmicas, mas que confiavam, em matéria de tortura, na mulher que foi casada com James Cameron. Bom demais.

Eu não saí do filme com a impressão que a tortura é defendida - uma das reportagens que li o comparava ao seriado 24 Horas, em que o tempo e a urgência justificariam a prática da tortura. Não vi assim. Mas  me incomodei com uma certa palhaçada na questão de como, a partir da posse de Barak Obama, a prática teria cessado nas prisões da CIA. Sério? Outro momento de dar gargalhada alta foi quando, ao entrarem no esconderijo de Bin-Laden, os atiradores sobem uma escada chamando: Osama... Osama... São ridículos que não combinam com um filme basicamente sóbrio e interessante.


The Sessions (As Sessões. Ben Lewin, US, 2012) traz a história de Mark O'Brien, poeta norte-americano que, após contrair pólio quando criança, viveu sua vida em um pulmão de aço. Sua história havia sido contada no documentário Breathing Lessons: The life and work of Mike O'Brien. O filme foca-se mais no conteúdo de um dos seus artigos, num período específico da sua vida, em que contratou os serviços de uma terapeuta sexual.

Hellen Hunt é sempre uma presença incrível nas telas. Ela dá vivacidade e sentido à sua personagem - e não à toa teve a única indicação do filme no Oscar. John Hawkes é um assombro também, e impede que seu Mark O'Brian seja caricato. Os dois nos colocam dentro da história de uma forma muito querida e palpável.  E continuam próximos mesmo depois de haver acabado o filme.

Os filmes infantis do mês desapontaram bastante. Não há muito o que dizer sobre As Aventuras de Tadeo (Las Aventuras de Tadeo Jones. Enrique Gato, Espanha, 2012) e O Reino Gelado (Snezhnaya koroleva. Vlad Barbe, Maksim Sveshnikov, Rússia, 2012) além de que eles são um testemunho de como escrever um filme para defender uma tese, e não contar uma história que pode, sim, trazer várias lições, é uma armadilha. E um tiro no pé. Os filmes para crianças parecem estar mais vulneráveis a esse risco, pois estão mais expostos à questão educacional, por se dirigirem a crianças. Balela total. Com as animações hoje podendo contar histórias como nenhum outro gênero, esse perigo é bastante anacrônico. Soa realmente old e um desperdício de um bons argumentos.

As histórias no cinema foram muitas e bastante fortes... nos livros, o mesmo não aconteceu.


A surpresa ficou pelo último livro do mês. The Statistical Probability of Love at First Time, de Jennifer F. Smith, me chamou a atenção, da prateleira da Cultura, pelo título e pela capa, fofíssima. E o livro não foi menos que isso... Como muitos outros dirigidos a Young Adults que tenho lido, ele conquista e entusiasma por trazer personagens muito amados, vívidos, mas não sentimentais. São personagens que se deparam com o que encontramos na nossa vida: perdas, dor, decepção, medo, receio, mas, sobretudo, esperança e uma forte ligação com as histórias que nos trazem os livros, os filmes, as musicas.  E, sobretudo, as pessoas :)

Apaixonante, eu o li quase de uma sentada, torcendo, imaginando e me surpreendendo em como o autor evitou armadilhas que seriam fáceis de cair ao contar sua história. Assim como Silver Linings, livro de que já contei acima.

Love at First Sight e Silver Linings foram lidos proximamente. E, não por acaso, como nunca é com as histórias, as nuvens têm, aqui, um lugar de destaque também:
"This is a total disaster. We're nearly to Heathrow and we haven't even properly discussed flying chickens." he jabs a finger at the window. "And see those clouds?""Hard to miss," Hadley says; the plane is now almost fully enveloped in fog, the grayness pressing up against the windows as the plane dips lower and lower."Those are cumulus clouds. Did you know that?""I'm sure I should.""They're the best ones.""How come?""Because they look the way clouds are supposed to look, the way you draw them when you're a kid. Which is nice, you know? I mean, the sun never looks the way you drew it.""Like a wheel with spokes?""Exactly." (p. 90).
Capas com rosto... ugh.
Indigo Spell é o terceiro livro da série de Richelle Mead, Bloodlines, um spin-off de outra que adoro, Vampire Academy. O final desta foi apressadíssimo para abrir caminho para Bloodlines, e eu estava com muito receito. Mas tenho adorado continuar no mundo dos Moroi, Damphir e Strigoi, assim como ter Sidney e Adrian como (ótimos) protagonistas. VA ficou de cortar o coração a partir do quarto livro. Bloodlines parece que seguirá o mesmo rumo. Por enquanto está mais leve, mas interessante anyway. E a espera pelo próximo capítulo continua... o principal atrativo e a maior tortura das séries!

No começo do mês, sem paciência de ler muita coisa, encontrei, por sugestão do goodreads.com, livros que têm capitalizado em cima de 50 Shades. Eu já li alguns livros nesse sentido, e estava curiosa para conhecer os que li mês passado. E o que eles me trouxeram esclareceu um pouco para mim esse fenômeno, e todos os outros que tenho visto.

Ao capitalizar em cima de uma história de sucesso, apresentam-se histórias que tragam elementos daquela que foi um sucesso estrondoso e atraiu milhares de leitores. Em 50 Shades, uma garota considerada inocente apaixona-se por um milionário controlador e lesado, numa relação que apresenta perigo inclusive de vida (hello, Edward e Bella...Vale lembrar que 50 já deriva de um outro fenômeno). Então, para trazer esses elementos que se consideram o motivo do sucesso do livro, o que ocorre é que categorias são criadas, e aí não necessariamente se conta uma história. Apresentam-se fatos, personagens, mas eles estão tão presos numa imagem cimentada que não há muito além disso. 

É irritante, na verdade. Eu amo uma boa história, e esses livros têm premissas interessantes. Mas se encerram tanto no que acham que deve ser que morrem na praia, literalmente. E o clichê do macho controlador perturbado que, ao sentir atração por uma mulher, esclarece que é dominante sexualmente e imediatamente parte para a porrada é cansativo ao extremo. Sério, pessoas? Há tanto a contar, e o relacionamento entre duas pessoas que lidam com bagagens familiares dificílimas pode ser tão rico e reflexivo... uma pena isso virar uma prisão mergulhada em senso comum. 

Ok, foram estes os livros: A Beautiful Lie, de Tara Sevic, tem um argumento interessante, mas, ao optar por ser um romance de espionagem a Nora Roberts, se tornou uma droga de livro. Desperdício total. Pleasure's Edge, Desire's Edge e Temptation's Edge, de Eve Berlin (um dos pseudônimos dessa autora focada em histórias BSDM) é uma trilogia que começou bem, mas que, ao final, me deu vontade de gritar de raiva. 

Bachelard já dizia que pensamento classificado é pensamento morto. E uma história pode ser mal escrita que dói, mas, ainda assim, fazer sentido, no que traz vida em si. Mas quando tudo isso é trancado numa categoria encerrada em si mesma? Morte instantânea. E trágica.




PS: A adaptação de Silver Linings Playbook me lembrou dois filmes que, factualmente, ficaram muito diferentes do livro em que se originaram, mas que, apesar disso, mantiveram-se fiéis à história que contam. Eu sempre lembro, quando falo a respeito, da cena em que Mr. Darcy se declara a Elizabeth em Orgulho e Preconceito. No livro, eles estão caminhando e a cena, turbulenta, ocorre. No seriado da BBC, ela foi apresentada em imagens e sons conforme as palavras de Jane Austen e perdeu toda sua força. No filme de Joe Wright, Mr. Darcy e Elizabeth se confrontam num edifício cercado de colunas, em meio uma chuva tão torrencial quanto suas emoções. Está de acordo, a meu ver, com a história que Austen trouxe. Fatos exatos nem sempre - quase nunca, na verdade - são sinônimos de fidelidade.

Nick & Nora e As Vantagens de Ser Invisível são assim também: como em Silver Linings, há fatos muto diferentes... mas, nessa diferença, eles conseguem se manter fiéis ao livro que trazem para as telas. As adaptações, assim, conseguem evitar a afirmativa mais comum que ouvimos: o livro é sempre melhor que o filme. Esses três aqui presentes mostraram que nem sempre é assim.

PPS: Outro livro que escolhi pela capa foi Vince & Joy, de Lisa Jewell. Um dos primeiros que li em inglês, ele é um dos mais queridos para mim ever. E iniciou uma nova etapa na minha relação com os livros, mutos mais visceral. Sobre ele, já falei no Viagens... e vale chegar a ele, se você ainda não o leu. Fofíssimo ao extremo :)

PPPS: Voltando do cinema, onde vi Silver Linings Playbook novamente : ) Mas não o havia visto ainda depois de ler o livro... Gosto da adaptação, entendo e defendo as mudanças que se faz numa história quando ela passa para as telas. Elas são necessárias na transição de uma linguagem a outra. Uma coisa me deixou triste, no entanto: no livro, Jake, o irmão do protagonista e personagem de Bradley Cooper, é muito querido, diferente de como aparece pela primeira vez no filme. Neste ele é coerente com todo o resto, mas essa diferença, para mim, soou como uma traição. Crazy desse jeito, rs.