segunda-feira, 21 de maio de 2012

Howlin' for my darling

É uma felicidade encontrar uma série nova em livros. Apesar de haver milhares e milhares delas, é difícil encontrar uma que chame a atenção de verdade.

Semana passada mergulhei numa trilogia sobre werewolves. Nightshade, Wolfsbane e Bloodrose, os três livros da série escrita por Andrea Cremer. Do primeiro eu gostei de verdade - apesar de, nos comentários que li no amazon.com, ele seja considerado o mais chato.  Os outros dois eu seguir lendo mais para terminar a série, mas sem muita esperança de que eles esperassem.

Uma coisa acontece e é triste, a meu ver: quando a defesa de uma tese pelo autor supera a história e seus personagens. Muita explicação, situações bizarras que não se conectam com os personagens, o cuidado em não ultrapassar certos limites... para contar uma história com vivacidade, penso que um autor tem de tomar bastante cuidado com as concessões que faz. 

Em Calla, a heroína da série Nightshade, há várias personagens com que já encontrei antes: Bella (Twilight); Katniss (The Hunger Games); Rose (Vampire Academy) e, infelizmente, Zoey Redbird (House of Night). Não digo com isso que haja uma cópia, uma questão que gera várias discussões. Acho quase impossível nos desvincularmos do que já lemos e dos personagens que conhecemos. Claro, uma inspiração, vamos dizer assim, mais direta poderia acontecer - e acontece muitas vezes. Mas diversos elementos se encontram e reencontram nas séries que tenho lido, e essa identificação é legal também.


"You know, he wasn't nearly as shocked as I though he would be."
Well, he reads a lot." I pulled the excuse out of thin air. "I think he's more open to the fantastic possibilities of the world than most humans." (Nightshade, pp. 386/387).

O problema, para mim, é quando esses elementos se tornam a base da narrativa. Os personagens somem e toda a potencialidade do que poderiam se tornar desaparece soterrada pelo "deveria ser". André de Comte-Sponville, em Pequeno Tratado das Grandes Virtudes, ao se referir ao Amor, já diz que a moral é "o que deveria ser", enquanto o amor "é". Penso que aqui está a diferença entre as histórias que nos seguram firmemente e as que se mostram mais frouxas: o que deveria ser e o que é. A honestidade na construção dos personagens e da narrativa em contraposição com uma ideia do que poderia agradar.

Para mim, isso é imensamente triste, porque quando leio o primeiro livro de uma série e ele me chama a atenção, é uma felicidade. Ele não precisa ser considerado um grande livro - e as minhas leituras aqui no Viagens mostram isso. Mas se fazem sentido, se o mundo a que me levam é um lugar onde eu gostaria de estar, se os seus personagens me conquistam a atenção e se com eles eu me importo a ponto de não conseguir largar o livro, eu permaneço com eles. Se não, o primeiro livro será a única parte da série a que eu chegarei.

Uma complicação à parte tem sido a construção do triângulo amoroso central, quase que uma obrigatoriedade nas séries atuais. Um simbolismo das escolhas que somos forçados a fazer na vida, eu os adoro, embora não nas formas em que aparecem atualmente. Em Nightshade, ele é bobo e aparece somente como uma pimenta especial na trama. Mais como uma espinha indesejada, ele não traz a tenção e a dicotomia de sentimentos que um triângulo pode oferecer. Muito diferente, por exemplo, do que ocorre em Clockwork Prince, segundo livro da série Infernal Devices, de Cassandra Clare (The Mortal Instuments). Nele meu coração realmente ficou dividido com a história do triângulo principal, heartbreaking e intenso, com questões que nos levam a nos importarmos com o que acontece e poderá acontecer no futuro da história. 

Importar-se com a história e seus personagens, aliás, é um dos pontos enfatizados como importantes. Se não nos importamos, qual o sentido? Se não sofremos, rimos, emocionamos, odiamos, choramos ou ansiamos, o que nos atrai? Se a história não mexe com a nossa visão de mundo, como continuar nela sinceramente?

Nightshade eu terminei de ler por não ser, a meu ver, totalmente infame, apesar de os dois últimos livros se distanciarem muito do primeiro. Com Calla eu me irritei várias vezes, assim como com Shay, a criatura mais fofa pelo primeiro livro. Mas fui lendo, lendo, até chegar ao final que, ao contrários dos comentários que li, é bastante legal, se comparado com o resto - o fim da série foi crucificado pelos leitores. Fora do primeiro livro, ele foi a única parte que fez sentido, depois de várias páginas sem nada que realmente se aproximasse do que eu havia gostado inicialmente na história.


Por fim, o livro traz algumas referências divertidas: 


Shay lowered his gaze, suddenly quiet. “I can feel it.”
Connor snorted. “Well, at least the Force is with you.” 
“Shut up,” Shay growled. (Bloodrose).

“What?” I said. “So you’re the hero, which automatically means you die in the end?”
“Probably (...)” he said. “Even Harry Potter died. Well, for a few minutes." (Bloodrose).


Agora é buscar outros mundos...

No cinema, cheguei a Piratas Pirados (The Pirates! Band of Misfits. Peter Lord, Jeff Newitt, UK/US, 2012) com os meninos. Uma animação incrivelmente bem executada, o filme me fez rir e me deixou bastante desconfortável ao mesmo tempo.

Infantil ele pode ser, mas o que o roteiro tem de mais interessante em referências e comentários não é reconhecido pelas crianças. Personagens históricos como Charles Darwin, Rainha Victória e Jane Austen passaram despercebidos pelos meus dois pequenos, enquanto eu ria alto. London Calling (The Clash) segue a tradição de trilhas sonoras bacanas nas animações e quase me fez pular da cadeira, enquanto os dois atacavam suas pipocas.

Da mesma forma, quando meu senho se franzia diante de apelos políticos um pouco exagerados, eles também não perceberam. O jantar secreto do G8 somente com espécies animais raras é um tiro certeiro, but... não sei. Too much, eu achei. E a Rainha Victoria como uma vilã sem coração realmente chocou-se com outro filme que amo, A Jovem Rainha Victoria (2009), com Emily Blunt. Um pouco menos e o contexto do filme teria sido muito mais legal.


Atenção para as placas que aparecem nos créditos finais... divertidíssimas : )






PS: O título deste post é uma inversão da letra de uma música da trilha sonora de True Blood (TV, 2008, US), Howlin' for my Baby, com M. Ward. Todos os episódios da série dividem seus títulos com nomes de músicas. Acho muito legal e muito mais interessante que o rumo que a série tomou de duas temporadas para cá. Ontem, ao pular do quarto para o último capítulo da quarta temporada, decidi não assistir mais a True Blood de forma contínua. Eu me diverti demais com os livros de Charlaine Harris (até o 11º, que começou a decepcionar mais fortemente) e a série, longe dos livros, tornou-se mais apelativa do que qualquer outra coisa - ruim quando se estraga uma boa história pelo exagero. Fica aqui a despedida, com a música a que me remeteram os lobos de Nightshade

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Slow May...onese.

Na semana passada, conversando com um amigo (The King of The Nerds!) na universidade, lembrei de uma história dos tempos da graduação.

As capas de Dave McKean para Sandman


Recém ingressa no curso de História, eu caminhava com um amigo pelo campus quando vi que ele havia comprado algumas HQ's. De reputação infame na época para mim, eu o olhei como várias pessoas olham para mim hoje (put the blame on mame...) e perguntei: você lê isso??? Ele me perguntou se eu sabia o que era "isso". Claro que não sabia. Ele, então, olhou para mim e disse: ok, vou fazer uma seleção de quadrinhos para você.

And Sandman himself...

Provavelmente na semana seguinte, ele chegou com vária HQ's num plástico, carregadas como sempre com muito cuidado. Entre elas estava Demolidor: o homem sem medo; O Cavaleiro das Trevas; Asilo Arkham; O Edifício (vale conferir esse link) e, no golpe final, Sandman (esse aqui também!). Com os quadrinhos, vieram não apenas personagens e histórias fantásticos, mas três autores que fazem parte da minha vida hoje. Frank Miller (presente na maior parte desse contato de primeiro grau, rs); Will Eisner e, o mais amado para mim, Neil Gaiman - não há nada como Sandman para mim, em tudo que li depois dessa apresentação bombástica. E posso dizer que muitos quadrinhos maravilhosos chegaram até mim. Mas Neil Gaiman, com Sandman e muitos de seus livros, é amor incontestável.

E o louco que criou Sandman.

Vejo agora como Paulo pegou pesado na apresentação. Minha dívida com ele é eterna : )

Asilo Arkham
Sua coleção de quadrinhos, há época, passava de mil exemplares. E, apesar de nunca ter lido os personagens da Marvel constantemente, nossas conversas me prepararam para entrar no cinema, anos depois, para encontrar todas essas figuras fantásticas que conheci naquele final dos anos 80.

Assim, cheguei a muitos filmes baseados em personagens da Marvel. Mas de uns anos para cá, uma história foi construída com alguns deles, e ela culminou no filme que, hoje, arrecadou um bilhão de dólares nas bilheterias de cinemas do nosso mundinho.

Homem de Ferro 1 e 2; O Incrível Hulk; Thor; Capitão América... Desde 2008 eles foram chegando, trazendo ao final de cada um uma pista para o que nos esperava adiante: Os Vingadores, o encontro de Iron Man, Capitão América, Hulk e Thor em novo capítulo de sua história

Ok. Dessa vez eu comi mosca novamente e perdi a sessão da meia noite de Os Vingadores (The Avengers. Joss Whedon, US, 2012 ). Mas ao meio dia de sexta-feira eu estava lá, na fila, junto com muitos dos nerds de Brasília, para ver o filme tão esperado em 3D na sala XD do Cinemark.

Os vingadores é um filme para se ver gigante. Não dá para encarar um encontro desses, com alguns dos super heróis da Marvel, em poucas dimensões. Eu me diverti demais, ri muito, fiquei nervosa e adorei a companhia da plateia, que ria e vibrava comigo, como se fôssemos todos conhecidos naquela jornada.

E acaba que somos, não é? Afinal, ali, estávamos juntos, diante da tela, com a mesma expectativa também gigante diante dessa tão esperada adaptação dos personagens da Marvel. Após tantos capítulos e filmes legais, personagens que ficaram maravilhosos na tela (Hello, Robert Downey Jr.) e adaptações que conseguiram, apesar da também super produção, decepcionar muito (Hello, Iron Man 2), The Avengers chegou bonito, engraçado, lunático e deixou mais expectativas quanto à sua, ou melhor, suas continuações: Iron Man 3, Capitão América 2, Thor 2 já estão previstos para 2013/2014, além de um provável filme do Hulk solo, dessa vez com o querido Mark Ruffalo.

E merece, por que Hulk ficou demais. 

Após Os Vingadores, encontrei mais um monstro sagrado da cultura e do cinema. Sete Dias Com Marylin (My Week with Marilyn. Simon Curtis, Uk?US, 2011) era outro filme de que tinha certo receio. Marilyn é uma figura icônica da nossa época, e mexer pode resultar em grandes desastres. E a presença de Keneth Branagh como Sir Lawrence Olivier não me tranquilizou nada a respeito.

Thanks God esse não foi um desses desastres. O filme é doce e traz em si o carisma da sua personagem principal. A época é clássica já no cinema; os personagens - Vivien Leigh, Dame Sybil, o próprio Olivier - têm suas histórias em nós contadas por diferentes filmes e livros. Encontrá-los de forma tão respeitosa e sem histeria foi uma surpresa boa. Conhecer Colin Clark na sua juventude, numa história surreal que viveu com Marilyn, foi uma experiência doce também.

O primeiro e único filme de maio no cinema, até agora (falta metade do mês ainda, não é?) foi Um Homem de Sorte (The Lucky One. Scott Hicks, US/2012), adaptação para o cinema do livro de Nicholas Sparks, que se tornou conhecido no cinema a partir de Diário de uma Paixão.


Já sei um pouco o que esperar quando chego a uma história de Nicholas Sparks. Mas mesmo assim procuro chegar com o coração aberto. Nesse capítulo da sua filmografia, todos os elementos esperados estavam lá. Mas um me chamou a atenção em especial.


O sul dos EUA é retratado, por alguns romancistas, de uma forma bastante saudosista: em pequenas cidades do Sul, a vida andaria em um tempo diferente. Seus personagens são tradicionais, sua luta pela subsistência numa vida moderna que exige muito refletiria a persistência desse modo de vida norte-americano.  O retorno do herói de guerra ressalta esse modo de vida ameaçado em personagens que não são perfeitos, mas que lutam honestamente pela sua subsistência e felicidade, assim são muitos do heróis e heroínas de Nicolas Sparks. 


Mas a minha atenção fugiu um pouco da trama para se focalizar nos detalhes com que ela é contada em imagens. Esses detalhes imprimem outra noção do tempo em que ocorrem as ações. Figuram uma vida bucólica: o caminhar por paisagens incrivelmente belas e imóveis como uma pintura; a personagem que se esquece das obrigações e brinca na água com os cachorros de que cuida; a criança que se esconde em sua casa na árvore; as gotas de água que escorrem da saia encharcada na cena de amor. Tudo, mas tudo mesmo em The Lucky One, nos remete a outro tempo e espaço, um que achamos que perdemos... mas que, eu creio, na verdade só existe na idealização de um modo de vida que não nos serve mais, e talvez nunca tenha...





4.    Por falar em Marilyn, ontem cheguei ao final de temporada de uma série em que ela também é A estrela. Smash, com 15 episódios, traz para nós a produção de um musical da Broadway sobre Marilyn Monroe. Desde a ideia e as primeiras composições,até a escolha do diretor, dos atores e os desafios da produção, vemos as dificuldades e desafios da produção de um musical. Eu, que adoro os bastidores, estou adorando. A história dos personagens, a trama que cerca a produção de Bombshell, é consistente também, como seus personagens. Nós os acompanhamos, na construção do musical e em suas vidas particulares...
      

      ... E o fazemos nas melhores companhias. Além das duas atrizes principais, que disputam pelo papel de Marilyn enquanto nos encantam com suas vozes incríveis, há os atores que já conhecemos e de quem sentíamos saudade. Angelica Houston! Eu mal acreditava ao vê-la novamente na tela, mesmo que seja na da TV. Jack Davenport, que já adorava em Coupling, é o diretor do musical que provoca ódio e amor - e assim não são os melhores personagens? Debra Messing está uma graça também, assim como Christian Borle, que eu não conhecia e que interpreta seu parceiro de composição, Tom. No último episódio da temporada, ele faz parte de um diálogo que ficou comigo e que diz como a arte e suas obras são compostas por seus realizadores, intérpretes e espectadores:  

     - Diga-me por que fazer isso de novo.
     - Você sabe. Arte.
  - Arte? Arte é uma compulsão doentia. É um ego descontrolado.Arte... 
    - Arte é lindo. Traz alegria para quem compõe; traz alegria para quem canta; dá alegria à audiência por ouvi-la. Agora volte ao trabalho.



terça-feira, 8 de maio de 2012

Lay your head where my heart used to be...

A primeira vez em que li Haruki Murakami foi em Minha Querida Sputnik. Logo na primeira página, ele arrancou meus pés do chão:

Na primavera de seu vigésimo segundo ano, Sumire apaixonou-se pela primeira vez. Um amor intenso, um verdadeiro tornado que varre planícies - aplanando tudo em seu caminho, lançando coisas para o ar, deixando-as em frangalhos, triturando-as. A intensidade do tornado não abranda nem por um segundo, enquanto sua rajada atravessa o oceano, destruindo Angkor Wat, incinerando a selva indiana, tigres e tudo, transformando-se em uma tempestade de areia no deserto persa, sepultando uma exótica cidade-fortaleza sob um mar de areia. Em resumo, um amor de proporções realmente monumentais. A pessoa por quem Sumire se apaixonou era, por acaso, dezessete anos mais velha do que ela. E casada. E, devo acrescemtar, era uma mulher. Foi aí que tud começou, e onde tudo acabou. Quase.

Tão belo... o amor em poesia. Desde essa página, eu sigo Murakami. Minha Querida Sputinik foi um amor rápido, lido quase que de uma sentada. After Dark, foi um encontro divertido e surreal, eu pulava feliz pelos diálogos entre Mari e Takahashi. Eu trouxe um deles aqui, no começo de As Viagens, mas como eu o conto e reconto várias vezes, trago-o novamente:
Takahashi asks her, “ Have you ever seen Love Story? It’s an old movie.” 

Mari shakes her head. “They had this on TV the other day. It’s pretty good. (…) after Ryan O’Neal has slaved away to become a lawyer, they never give the audience any idea of what kind of work he does. All we know is he joins this top law firm and pulls in a salary that would make anybody envious. He lives in a fancy Manhattan high-rise with a doorman out front, joins a WASP sports club, and plays squash with his yuppie friends. That’s all we know.”
Takahashi drinks his water.
“So what happens after that?” Mari asks.
Takahashi looks upwards, recalling the plot. “Happy ending. The two live happily ever after. Love conquers all. It’s like: we used to be miserable, but now everything’s great. They drive a shinny new Jaguar, he plays squash, and sometimes in winter they throw snowballs. Meanwhile, the father who disowned Ryan O’Neal comes down with diabetes, cirrhosis of the liver, and Meniere’s disease and dies a lonely, miserable death.”
“ I don’t get it. What’s so good about a story like that?”
Takahashi cocks his head. “Hmm, what did I like about it? I can’t remember. I had stuff to do, so I didn’t watch the last part very closely…” (pp. 101/102).
“In this world, there are things you can only do alone, and things you can only do with somebody else. It’s important to combine the two in just the right amount.” (p. 167). 

Não é incrível?

Por The Wind-Up Bird Chronicles, eu caminhei mais vagarosamente, até chegar à terceira parte do livro, quando mergulhei nele para valer. Kafka on The Beach está na minha estante, à espera... enquanto isso, tomou um banho de uma chuva que invadiu o meu quarto, somente para ser fiel ao nome : )

 Mas durante todos eles, eu sabia que ainda faltava, de verdade, chegar a Norwegian Wood, o romance que faz companhia a Minha Querida Sputinik como os melhores de Murakami. Muitos amigos me contavam do livro com um sorriso. Mário, da Livraria Cultura, chegou a compará-lo com Sputinik: este seria o amor do ponto de vista feminino, mesmo que o narrador seja um homem; aquele seria o amor dos meninos - disse isso para explicar porque havia se identificado com Norwegian e gostado tanto dele. 

I sat at the kitchen table, drinking my beer and reading Beneath the Wheel. I had first read the novel the year I entered middle school. And now, eight years later, here I was, reading the same book in a girl's kitchen wearing the undersized pijamas of her dead father. Funny. If it hadn't been for these strange circumstances, I would probably never had reread Beneath the Wheel. (Norwegian Wood, p. 307). 

No início do ano, abri Norwegian Wood... e só o fechei no último fim de semana, quase quatro meses após. Alguns livros furaram a fila, eu o deixei fechado por um bom tempo, até conseguir finalmente submergir na história contada por Toru, uma das figuras mais queridas que já encontrei. 
Ele narra o seu apaixonar-se, durante um período da vida, naquela forma extremamente poética e intensa, mas ao mesmo tempo desapegada que o japonês apresenta. Penso que a intensidade é tanta, tanta, que uma forma emotiva em excesso tiraria a sua força. E a poesia está no que não se explica... no que vivemos com Toru, as pessoas e as paisagens que fazem parte do seu desse período, que ele relembra na narrativa em primeira pessoa.
No entanto, mesmo amando me apaixonar com Toru e dividir sua incredulidade diante da vida, tenho de dizer que, cria do amor romântico que sou, realmente acaba com o meu coração quando uma história termina antes da concretização do amor entre duas pessoas. É possível lembrar de algumas dessas histórias, no cinema e na literatura. Vince & Joy, de Lisa Jewell, o primeiro livro que comprei pela capa... Assédio, filme de Bernardo Bertolucci , é de deixar qualquer um doido... tanto que aparece em história do Degraus, em uma tentativa de pensar um pouco no seu final (se é que se pode chamá-lo de fim). Essa prática narrativa perversa de colocar um ponto final justamente quando o casal, que se desencontra durante toda a história, finalmente abre a porta um para o outro pode ser estilisticamente bacana e realisticamente honesto, mas acho de uma perversidade indescritível. Certo, eu estou rindo de mim mesma, mas não pode deixar de ficar feliz quando filmes como Medianeras colocam nem que seja um relance no futuro feliz de seus fortunados heróis.  
Eu já chego a Murakami sabendo que a surpresa sempre virá e o indefinido faz parte do seu mundo. Assim, ainda hoje, após alguns dias após fechar Norwegian Wood, eu ainda tenho uma certa melancolia ao meu lado, junto com imagens do que teria sido a vida de Toru após o ponto final. E ela ainda deve permanecer alguns dias comigo... mal posso esperar para chegar à adaptação do livro para o cinema, em produção de 2010, que promete trazer a poesia das palavras de Murakami em imagens...
 Nenhum intercâmbio proposital com o Japão me levou a continuar com os autores japoneses, mas foi isso que ocorreu. No mês passado, resolvi eliminar mais um buraco negro na minha vida e pedi a um amigo que me apresentasse aos mangás.  A algumas viagens gosto de chegar sozinha... a outras já prefiro a companhia de quem conhece paisagens que ainda não percorri. Foi assim com o RPG (Eblaneva, e a nossa mesa de L5R???) e está sendo com os quadrinhos japoneses. Américo, o rei nerd na minha universidade (nomeado e consagrado, rs), trouxe três coleções para mim. 
Comecei por Death Note (Tsugumi Ohba e Takeshi Obata, 2003), de que já ouvi falar e que está previsto para estrear no cinema em 2014. Estou amando, um volume por dia... mas já percebo que, para não ficar too much, preciso alternar com os outros mangás que me aguardam, serenos, recolhidos dentro do armário para não sofrerem nenhum acidente. 
A narrativa japonesa é intensa, e por isso gosto tanto dela. Os quadrinhos são fortes. A história é ágil, mas também traz muitos elementos, que colidem quando lidos com pressa. Ou assim é comigo, que não consigo deixar as histórias muito na superfície. 
Estou amando... e muito feliz por uma viagem nova. Agora faltam os games. Alguém se habilita?  : )
No cinema, algumas, mas não muitas, novidades no fim de abril. 
Na sexta-feira antes do show de Paul McCartney, saí do aeroporto direto para o cinema, e do calor de Recife para o frio do Alasca - onde, by the way, ainda quero morar. 

A Perseguição (The Grey. Joe Carnahan, US, 2011) foi o filme escolhido por Kal para finalmente chegarmos ao cinema juntas, depois de tantos e tantos filmes conversados pelo telefone e facebook. O deserto de gelo do Alaska é assustador, principalmente nas circunstâncias da história, mas me atrai muito. É uma imagem constante para mim. Assim, segui nela feliz e completamente congelada na sala com o ar condicionado explodindo de forte.
Mas fez parte do contexto, rs. Lembrei de quando vi The Day After Tomorrow (2004), um filme de fim de mundo de que gosto, outra paisagem gélida num mundo que passa por outra era glacial. Na sala de cinema também gelada, com uma criança pequena que gritava durante o filme, o que via na tela adquiriu uma veracidade impressionante : ) Diversão total.
De Liam Neeson  eu gosto muito também, e ele foi um dos atrativos para chegar a The Grey, sobre o qual não posso falar muito além de que me diverti muito, adorei a companhia querida da minha sis de coração e saí, de volta para o calor daquela cidade linda, mais determinada a chegar ao Alaska um dia. Someday.
Este post acabou por ficar realmente big... assim, os outros três filmes que vi em abril aparecerão aqui por esses dias. Eles são importantes e merecem um certo protagonismo. 


Por enquanto, um lembrete para mim mesma!

PS: O título deste post veio, novamente, de uma música que tem estado muito comido desde Fifty Shades. Eu a ouvia antes de escrever e ela me levou um pouco para a história de Toru. Lay your head where my heart used to be...  do cover de Cibelle para Green Grass, de Tom Waits.
PS2: Durante todo o livro de Murakami, não conseguia trazer Norwegian Wood, dos Beatles, à lembrança. Por isso aqui está ela... 






quarta-feira, 2 de maio de 2012

E eu que já havia desistido...


Minha primeira lembrança dos Beatles vem de Michelle, música que eu ouvia repetidamente aos sete anos. Minha irmã saía pela porta, eu entrava no nosso quarto e colocava no stereo (big smile) um dos discos da coletânea que eu ouvi seguidamente até aparecer o tocador de CD. E foram anos com aqueles álbuns, o vermelho e o azul, com os Quatro de Liverpool em fotos no início e no final do grupo...


Um pouco a respeito eu conto em Something, história que escrevi para Os Degraus de Amélie quando dos dez anos da morte de George Harrison, meu Beatle favorito.



Something é também o título de uma das músicas mais famosas dos Beatles, de autoria de George, da qual,  aliás, não gosto nada. Mas me emocionei às lágrimas quando Paul McCartney a tocou em seu show em Recife, no dia 21 de abril. Eu estava lá, por ação da minha sis de coração, Kal. Com ela, me emocionei e chorei em vários momentos. Com ela, saí exausta e feliz daquele que, com certeza, é um dos shows mais incríveis que vi na minha vida.


Paul esteve no Brasil várias vezes,  uma delas no ano passado. Em todas elas ficou num aperto no coração por não ter me esforçado muito por chegar até ele. A primeira vez em que esteve no Brasil eu tinha 20 anos, estava no meu primeiro emprego. Vi uma amiga ir ao show em SP com admiração por ela se deslocar ao que, para mim, era terra de ninguém, para ver um show, mesmo que fosse com o Paul. Bom, logo depois segui seu exemplo e cheguei à cidade grande (caipira do interior forever!) para ver David Bowie, outra paixão grande. Depois dessa primeira aventura, muitas se seguiram, thanks God, e hoje viajar para ver minhas bandas preferidas é já um costume. 

O Arrudão no dia 21 de abril : )

Mas de Paul McCartney eu havia sinceramente desistido. Uma que seria difícil, a meu ver, que ele voltasse ao Brasil. Outra que tinha um certo receio de o show ser cafona. Sério. Os Beatles para mim são uma instituição sagrada, e se e uma decepção ao encontrar um deles ia ser de lascar. Não fui assistir a Ringo Star em Brasília justamente por isso.

No entanto, quando Kal ligou e me intimou a ir ao show, que seria pertíssimo de sua casa (tanto que voltamos a pé, numa maratona à parte, divertidíssima), a esperança voltou. Deixei o receio de lado e fui para Recife. Não acreditava no que ia ver até entrar no estádio e ver a excitação do público, numa expectativa imensa no escuro do estádio - as luzes permaneceram apagadas, chegávamos aos nossos lugares meio que no escuro. E isso importou? Até parece... Nada importava, só a presença de amigas tão queridas num show que prometia ser inesquecível.


E a promessa se concretizou a cada instante. superando toda e qualquer expectativa. Meia hora antes do início, que ocorreu pontualmente às 21h30 (embora os jornais insistam em um atraso de 5 minutos, pense), os telões, ao som de músicas dos Beatles, mostravam imagens de Paul, do quarteto e da Inglaterra. Um fourplay eficiente e emocionante, que já nos preparou para gritar enlouquecidamente na entrada de Paul no palco, com Magical Mistery Tour.

And magical it was.

Cafona?  Onde eu estava com a cabeça? O show foi perfeito, de despedaçar o coração. E foi rock'n roll ao extremo, com músicas que nunca pensei ouvir ao vivo num show de Paul: Back to USSR, Helter Skelter (quase morri), A Day in The Life (quase morri novamente). Blackbird me emocionou horrores. Várias músicas menos conhecidas dos Beatles apareceram também, e eu as reconheci graças ao programa de rádio sobre eles que eu ouvia todo sábado, enquanto lavava o carro. Nessa época, saí do universo dos dois álbuns da minha irmã para conhecer melhor essa banda que amo tanto e que se separou justamente no ano em que nasci. 


Foram três horas de encantamento emocionado, que o público perfeito de Recife ajudou a construir. Nas reportagens da Folha e da Rolling Stones, esse público arretado (nas palavras de Paul : ) e extremamente respeitoso foi chamado de desinteressado (pelo vídeo acima, dá para perceber que viagem foi esse comentário). Acho que eu e os críticos não fomos ao mesmo show. Um exemplo do respeito? Todos gritavam o nome de Paul ao final... quando ele chamou a banda - também maravilhosa e divertidíssima - para a frente do palco, todos trocaram seu nome pelo aplauso. Foi bonito. Um exemplo da alucinação que estava aquilo? Antes do bis, com o estádio completamente às escuras, o coro de Hey Jude cessou apenas quando os músicos retornaram. Arrepio ainda.

O autógrafo nas costas da fã que subiu ao palco virou tatoo logo na segunda-feira. E Paul pergunta: sua mãe sabe disso???

E por falar na banda, ao pesquisar após o show, entendi a sintonia dos músicos no palco. Juntos há 10 anos, eles se entendem e divertem no palco, uma delícia de ver. Os guitarristas que tocam com Paul têm a incumbência de, nas músicas dos Beatles, tocarem o que cabia, nada mais, nada menos, a George Harisson. E o fazem muito bem. Um deles, Rusty Anderson, o guitarrista beatlemaníaco vampiro, é a imagem da felicidade no palco. Entusiasma-se, sorri para o público, dança loucamente, cai no chão exausto... Um show à parte, assim como o baterista, que faz uma dancinha engraçadíssima durante o show, divertindo mais ainda o público.

Rusty Anderson

E isso é muito do que faz esse show incrível: mesmo longe - eu estava na arquibancada, no setor mais distante -, todos eles, no palco, criam uma proximidade incrível com o público. Paul é irônico e sentimental ao mesmo tempo. Ri de si mesmo, diverte-se com as brincadeiras dos músicos. Homenageia os que fizeram  e fazem parte de sua vida, como os parceiros dos Beatles, sua falecida esposa Linda e sua atual mulher, Nancy. My Valentine foi cantada na companhia do clipe, produzido recentemente, que tem Johnny Depp e Natalie Portman. 




Nesse turbilhão, chegamos ao final completamente exaustos e em êxtase, sem entender como aquela criatura de quase setenta anos, desmanchado no calor de Recife, consegue criar uma atmosfera tão encantada, com uma energia incansável. Admiração, emoção, felicidade... Ainda bem que o universo (na forma da minha sis amada!!!) me deram essa oportunidade.

Gratidão eterna, Kal!

Depois da festa em Recife, exatamente uma semana após Paul McCartney, já de volta ao meu povoado quadrado, eu cheguei a outro show que protelei assistir por anos e que, ao chegar na minha cidade, não me deixou outra escolha : )

Duran Duran é amor antigo também, não tão visceral quanto os Beatles, mas muito especial. Eu o vi chegando ao Brasil em diferentes épocas. Ouvi de amigas rockeiras como conseguiram falar e tirar fotos com Simon Le Bon ou Nick Rhodes  ou Jonh Taylor (foi, mal, Roger... logo ele que fundou a banda eu deixo de fora das lembranças). Essas eram histórias divertidas, mas distantes de mim. Até o sábado passado.

Em uma circunstância que só poderia acontecer neste povoado, rs, uma semana antes do Duran se apresentar em Brasília, somente 200 ingressos haviam sido vendidos, numa cota de 3000 apenas para a pista premium. Assim, o show foi transferido para um sala menor, que deixou a banda muito mais próxima do público. Cheguei cedo e, apesar da tabaquice da produção, consegui ficar na grade, inédita em shows no Centro de Convenções, mas compreensível numa banda como o Duran.


Esta e a foto seguinte foram tiradas pela Paty, que foi comigo ao show. Muiiiiiiiito perto!!!
 


E aí o inacreditável aconteceu novamente: logo nos primeiros minutos do show, Simon Le Bon me aparece na minha frente, em cima de uma caixa de som. Eu, que achava difícil vê-los um dia, não somente estava ali, mas estava tãaaaaaaaaaaaaaao perto. Foi incrível, mesmo com a vergonha de ver que, nem num espaço menor, a lotação foi completa. 

Apesar de povoado, ganhamos uma surpresa inesperada: Save a Prayer, ausente do set list do Duran há vários shows, foi cantada junto com o público, que parecia não acreditar também. 

Há uns posts abaixo, falei sobre o livro de Scott Westerfeld, The Last Days, em que ele, com seus personagens de final de mundo, conta sobre como um show de rock pode ter o poder de destruir ou salvar o mundo. Para mim, é sempre a salvação. Um dos meus lugares favoritos neste planeta, um show de rock consegue trazer uma felicidade para a minha alma me faz sempre, sempre, valorizar esses momentos. A dificuldade em comprar os ingressos, a viagem para outras cidades, a peregrinação para os estádios (em Recife, até isso foi uma belezinha! Carona boa sem engarrafamento, estádio perto de casa, companhia para a volta encalorada), a saída exausta e tumultuada no meio da multidão... nada disso é empecilho. 

Os shows continuam a ser, como o cinema, uma das minhas casas favoritas : )



PS: Os vídeos neste post foram trazidos do youtube. Eu tenho alguns do show do Paul McCartney e do Duran Duran, mas são muito fragmentados. Apesar de gostar muito de ter o registro, eu tiro poucas fotos e meus videos são curtos. Eu acho que, se me preocupo muito em filmar ou fotografar, acabo por não aproveitar o show. Ainda bem que muitos não pensam assim, porque alguns registros são bons e completos, como o acima - no qual, aliás, dá para ouvir meus uhuuuuuuuuuuuus e Simon!!! Sim, a voz esganiçada é minha. Enjoy!!!!


PS2: The Beatles, conhecido como O Álbum Branco, é definitivamente o mais amado por mim. Bittersweet, ele é uma imagem em sons do que foram os últimos anos dos Beatles. Algumas das minhas preferidas, assim como das detestadas, estão lá. Dear Prudence consegue me pegar pelo pé sempre que a ouço... O lado B é uma sequencia de felicidade: Martha My Dear, I'm so Tired, Blackbird... pulamos algumas faixas, e lá está Julia. Volto para o lado A, e repito seguidamente While My Guitar Gently Weeps, a música mais perfeita do universo. No segundo disco, Mother Nature Son, Everybody's Got Something to Hide Except for Me and My Monkey (que Paul toca no show, unbelievable!), Sexy Sadie, Helter Skelter, Honey Pie, Cry Baby Cry... Maravilhoso esse album. E muito dele esteve presente no dia 21 de abril. Cafona... cada ideia.