quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Meu coração feliz como um cupcake





Enquanto eu assistia ontem a Medianeras (Gustavo Taretto, Argentina / Espanha / Alemanha, 2011), em um momento de divagação me veio a ideia de como alguns filmes são pequenas joias que aparecem no nosso caminho - ainda não muito lapidadas, mas de uma delicadeza surpreendente. E uma beleza que comove.

Medianeras é assim.

Eu sentei na minha cadeira na primeira fileira com uma informação apenas sobre o filme, proveniente da sinopse no jornal: "os encontros e desencontros de um casal na argentina". Minto. Eram duas as informações, porque ao lado da sinopse, vinha uma foto: um casal que cruzava seus caminhos sem olhar um para o outro. Então eu já sabia algumas coisas... uma grande cidade, duas pessoas, a distância, o desencontro... 


O que eu não previa foi tudo o que o filme me trouxe. O início carregado de invocações. Os espaços vazios na narrativa que o nosso coração preenche em reconhecimento. As janelas, os edifícios, os espaços. As pessoas, Mariana e Martin. A trilha sonora, diversa e rica e próxima de mim. 

Não esperava também identificar-me com as identificações dos dois personagens. Astro Boy! Sally e Jack de Nightmare Before Christmas! Onde Está Wally, meu Deus, quanto tempo não pensava nele... Os gostos deles eram meus, e assim eu caminhei com eles por Buenos Aires, numa vida que reconheço. Distância cultural my ass. Proximidade pela arte yes. 

Permitam-me a cafonice do trocadilho, porque eu estou realmente muito entusiasmada por essa viagem : )

Medianeras, como disse, é uma joia. Ao se grudar na parede que a separa do vizinho, para mergulhar melhor na música que ele toca ao piano, a necessidade de proximidade que Mariana tinha era minha também. Ao chorarem em Manhatan, com Woody Allen, a emoção estava comigo. A vida em um cubículo, cercada de gente, é solitária. Essa solidão eu vivencio na cidade.

Ao ler o resumo do filme no imdb, pensei como este mundo é realmente estranho. Ou como as histórias realmente são diferentes para todos. 

Martín and Mariana are slightly damaged people who live in buildings just opposite one another. While they often don't notice each other, separation might be the very thing that brings them together.

Assim o filme é descrito. Eu imaginei o que seria uma pessoa que não fosse slightly damaged... Thanks God eu não conheço nenhuma. 

O som do espanhol é uma trilha doce para o filme. No trecho a seguir, justamente o início que me encantou, ele é marcante.



Do início, passo ao final e a outro vídeo que encontrei no youtube - estava à procura da trilha sonora, que não encontrei. Mas cheguei a Martin e Mariana e o vídeo que postaram na web. Como disse, se trata do final do filme e, portanto, um big spoiler. Mas ele está aqui para quem não se importar. Trago somente o link para diminuir a tentação e aumentar o tempo de escolha...  http://www.youtube.com/watch?v=YL9FnrkzdpE&feature=related.

No youtube, o comentário ao vídeo enfatiza como não se deve assistir ao clip antes do filme...para mim, não é importante. Como dizia para Kakal hoje, ao tentar contar o filme para ela, o enredo não é o foco ali. Para tentar me explicar melhor, a história se constrói não pelos fatos que conta, mas pelos silêncios, sentimentos, espaços que cria e expande em nós. A narrativa é o essencial. 

Mas o clip continua sendo um spoiler, rs. 

Como a narrativa, o fundamental aqui foi que, num dia não muito leve, saí do cinema flutuando, feliz, com uma imensa fé na vida.


E o mais importante, True love will find you in the end ... como amei essa trilha sonora. 






True love will find you in the end
You'll find out just who was your friend
Don’t be sad, I know you will,
But don’t give up until
True love finds you in the end.
This is a promise with a catch
Only if you're looking will it find you
‘Cause true love is searching too
But how can it recognize you
Unless you step out into the light?
But don’t give up until
True love finds you in the end.




Antes de ontem foi outro dia de cinema. O coração pesado, precisava do refúgio que o cinema me proporciona. E, apesar da etimologia da palavra, que indica proteção e guarida para quem está fugindo, o cinema não é uma fuga para mim. Nele chego principalmente quando nada mais faz sentido justamente para conseguir colocar os pés no chão. Refugiar-me no que em mim há de mais sagrado, o meu centro.

Triângulo Amoroso (3. TomTykwer, de Corra, Lola, Corraaaaa,  Alemanha, 2010) foi um risco para mim. Dos filmes sobre relacionamentos que concretizam o triângulo - porque eu estou para ver uma história que não traga triângulos amorosos...rs - eu costumo desconfiar. O moralismo é um risco grande e sedutor numa produção assim. Mas Drei me encantou e me conquistou. 




O envolvimento do trio é sincero e cativante, e por isso ele já me atraiu. Mas, na verdade, o que mais me atraiu foi como o filme se expõe enquanto tal: a arte como forma de vivenciar, ver e entender a vida e os relacionamentos. A dança que apresenta um triângulo no início foca em representação o que veremos a seguir. Como a primeira fala de um debate, ela dá  o tom. As cenas estilizadas em cinema preto e branco dizem como às vezes só a arte pode nos dizer da dimensão gigantesca da dor e da perda. O olhar dos personagens para a própria vida como um filme nos contam como o espelho que a câmera nos apresenta pode nos dizer mais do que o espelho que olhamos pela manhã. 

Esta última percepção me veio com um comentário que Joe Wright faz nos extras presentes no DVD de Orgulho e Preconceito (França/UK, 2005). Ao olhar sua imagem no espelho, Ellizabeth olha diretamente o público. Nesse momento, a câmera é um espelho ao espectador, para quem ela olha diretamente em busca de uma melhor compreensão sobre si e o que sente. That's a Bingo!!! 



Em Drei, conheci a nova versão dos cinemas no Liberty Mall, agora chamados de Cine Cultura Liberty Mall, para frisar a escolha por uma programação mais focada em filmes de menos destaque comercial. Uma surpresa boa foi chegar lá e ver a quantidade de pessoas na fila da bilheteria. As quatro salas do shopping antes obsoletas e vazias, conseguiram se renovar com uma opção sábia, a meu ver. Ok, a projeção continua ruim, a tela é pequena... mas o acesso a filmes que de outra forma não chegariam à cidade é um presente feliz!

Pride and Prejudice perfection...



2 comentários:

  1. Dri!!!!
    Adorei o Medianeras assim como o cupcake ccom um coracao!!!!
    Estou doida para ver esse filme, entao quando vc for me avisa ta?! A musica e lindaaaaaaa!!!!!! Obrigada pela dica!!!!!!
    grande beijo!
    MARI

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  2. Amei as narrativas: a de ontem e de hoje. Beijinho!

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